A Boate Vogue em Copacabana, Rio de Janeiro
Um dos grandes templos da noite carioca, o Vogue foi, até o seu final, o mais importante e refinado nigthclub da cidade.
#Hashtag: #boatevogue #vogue
A História da Boate Vogue em Copacabana
Apesar de pequena em tamanho físico, a casa do Barão von Stuckart, austríaco, na Avenida Princesa Isabel apresentava sua excelente orquestra de músicos negros, importada dos EUA e, como outra marca registrada, o piano suave de Sacha Rubin que sempre saudava a chegada dos habitués com a canção preferida de cada um deles: Solitude para Jacinto de Thormes, Invitation para Lourdes Catão, Never let me go para Beki Klabin.
Funcionou a partir de 1946, logo tornou-se ponto obrigatório das personalidades da época sendo frequentado por Benjamin Vargas, irmão do presidente Getúlio Vargas, Teresa e Didu Sousa Campos, Lili e Horácio Carvalho, os Mayrink Veiga.
No início da década de 1950, o Vogue contratou uma cantora francesa chamada Patachou, que tinha por hábito sentar-se no colo dos senhores enquanto cantava e cortar-lhes a gravata com uma tesoura.
Certa vez, o agraciado era o dr. Fábio Barreto, neto do ex-presidente Antônio Carlos e futuro procurador da república.
Já bêbado, ele recepcionou Patachou abrindo a braguilha, expondo o membro viril e desafiando a cantora a cortá-lo em vez da gravata.
Como ela, não se fazendo de rogada, encaminhasse a tesoura em direção à genitália do doutor, ele mais que depressa recolheu-a, sob apupos gerais.
Ao contratar, ainda na década de 50, os serviços da então famosa Boate Vogue do Rio, a VARIG apostava na alta gastronomia como parte essencial de uma viagem prazerosa.
Em 1955, quando os Super Constellation inauguravam uma linha para Nova York, que iguaria fez mais sucesso a bordo? Foi uma entrada, Bitock de Volaille, do Vogue.
Aconteceu que, no domingo 14 de agosto de 1955, à tarde, a boate Vogue pegou fogo. Dois homens, em desespero, atiraram-se do prédio onde funcionava a boate.
O incêndio do edifício onde funcionava o Vogue comoveu a cidade.
Quando as emissoras deram as primeiras notícias, a população estava longe de prever que o sinistro assumisse proporções tão impressionantes.
Casos verdadeiramente dantescos se passaram no interior do edifício, tomado pelas chamas.
Foi uma luta desigual que se travou entre as poucas pessoas que tiveram a infelicidade de ficar retidas ali dentro e o fogo. Espantados pelo imprevisto da tragédia, entregues à própria sorte, vendo barrados os meios normais de abandonar o prédio, as vítimas tudo fizeram para salvar-se. Lutaram contra as colunas de fogo que marchavam na sua direção.
O Globo - 15 de agosto de 1955
Terminou, ontem, uma etapa da vida noturna carioca. Terminou com o incêndio do Vogue e a morte de Valdemar e Glorinha Schiller. Este cronista, ontem, de manhã, ceava em compania de Lúcio Schiller, quando Valdemar e Glórinha subiam ao seu apartamento. Houve o seguinte diálogo:
LÚCIO - Valdemar, sente-se comigo vamos tomar uma taça de champanhe.
VALDEMAR (olhando o relógio) - Não posso porque, amanhã, vou pegar o primeiro páreo do Jockey.
Era a última vez em que víamos Valdemar e Glorinha. Não sabíamos que estávamos na véspera - eles da morte e nós do sofrimento. Em seguida deixamos a boite para sempre.
Com o Vogue terminou uma era da vida noturna carioca.
Outra virá, mas será outra, sem o Vogue.
Queimou-se o piano que fora de Sacha, que passou às mãos de Fats Elpídio, Chaim, José Maria e Carlinhos, mas ficarão as canções das noites do Vogue. "C´est magnifique", "Unforgettable", "I`ve Got You under my skin", "Because of Rain"... tantas na voz de Louis Cole, que hoje está perdido na rua, aturdido, como um bêbedo, como um fantasma.
Acabou-se o Vogue exatamente quando o cornetim dos bombeiros tocou o "fogo extinto".
Antonio Maria
O Globo, 16 de agosto de 1955
A tragédia do cantor norte-americano Warren Hayes, uma das cinco vítimas do incêndio do Vogue, causou emoção tão profunda como aquela do casal Schiller. pois a radiante mocidade e de certo um não menos brilhante futuro eram apanágio dos três.
Warren teve o seu apartamento quase respeitado pelas chamas. mas o calor foi intenso, realmente abrasador, alucinando o rapaz, que, segundo a autópsia, morreu em virtude de extensa queimadura, fazendo-o preferir o salto no espaço.